Contos

Derrubando trem da RFFSA

Uma coisa era certa, o trem de passageiros da RFFSA, sempre atrasava em sua passagem pelo trecho de Coroatá, no Maranhão. Mas  para Netin, isso não fazia a menor diferença, pois bastava que ele percebesse os sinais sonoros, como o chicotear dos trilhos que gerava uns estalos metálicos espaçados, ou ainda, como dizia Netin: — Era como se os trilhos estivessem tossindo — como quem tentava se libertar dos potentes parafusos, que os prendiam aos dormentes de madeira; poucos em bom estado e muitos completamente podres; para ele, isso era o sinal de que em minutos o trem estaria passando em frente à sua casa; imponente, majestoso e barulhento como sempre. O passar dos rodeiros sobre cada emenda de trilho gerava um ritmo, que embalava a imaginação no tempo e no contratempo, nas pausas e batidas de ferro contra ferro, que faziam Netin correr no mesmo tempo, entoando a canção da liberdade  com aquela bela canção provocada por um monte de ferro velho, que harmonizavam um belo conjunto; um monstro de ferro; seu brinquedo de lata.

Entretanto, nem sempre era assim que Netin esperava o seu velho trem. Ele aprendera com os outros meninos, engenheiros de primeira grandeza, que se colocasse uma agulha de costura, daquelas que a sua mãe usava, e a colocasse sobre o trilho com um pouco de sabão, o trem descarrilaria. Não foram poucas as vezes que Netin tentou, mas em todas, tudo o que ele conseguiu foi deixar uma marca branca no local em que ele botava a agulha, pois esta, se soldava ao trilho. E assim Netin viveu até aos nove anos, esperando, seguindo e correndo junto com aquele belo monte de ferro velho e sem nunca o ter derrubado.

E de outras vezes Netin esperava seu “trem pagador”, montado em seu belo cavalo preto, de nome garanhão, com seu lenço amarrado ao pescoço, em perseguição aos bandidos que pretendiam praticar assalto no seu trem e como sempre, davam com os burros na água. Era, pois, Netin, meliante, admirador e protetor do seu gigante de lata.

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