Opinião

Lykeion

Eu fui um Liceísta. Estudei no Liceu Maranhense, a mais antiga escola pública do Maranhão, fundada em julho de 1838 e que a partir de 1941 teve como sede o imponente prédio localizado na esquina do parque Urbano Santos, tendo ao fundo o ginásio Costa Rodrigues, à frente a lateral do Sesc, pelo lado esquerdo, o antigo colégio Ateneu e para literalmente fechar o cerco, tem à sua direita o antigo prédio da Embratel, com seu característico azul bebê. Tudo isso emoldurado pela praça Deodoro com sua magnífica biblioteca pública Benedito Leite. É bom lembrar que antes de 1941 funcionava neste citado prédio, o 5º batalhão de infantaria do exército. E hoje sinto que nós, turma de 78 a 80, formávamos o verdadeiro batalhão de adolescentes cheios de marra, alguma esperança e muita idiotice nas atitudes.

É bom não esquecermos onde tudo começou, nem sempre foi no magnífico prédio dos tempos atuais. Foi no térreo do convento do Carmo, vindo mais tarde a mudar-se para a rua Formosa ou Afonso Pena e mais tarde em 1941, como já foi citado, para o atual prédio no parque Urbano Santos.

Por lá passaram algumas figuras de destaque no cenário político, social e cultural do Maranhão tais como Roseana Sarney, Gastão Vieira, a cantora Alcione Nazaré, José Sarney,  a escritora Arlete Nogueira da Cruz, o poeta Sousândrade, Benedito Buzar, além de Aluísio Azevedo, Josué Montello e claro, meu amigo contemporâneo, Bastião, ou Anacleto, delegado Anacleto ou simplesmente Sebastião, como bem diria dona Josefa.

Recobrando lembranças lá dos idos dos anos 78, 79 e 80, me vejo transitando pelos corredores largos do majestoso prédio. A sua configuração em formato de U dava a sensação de que estávamos sendo abraçados pela enorme magnitude da edificação. Tinha a boa sensação de que estava em um lugar bom e seguro. Estudava na ala direita superior mas transitava todas as alas e corredores, oportunidade em que aproveitava o “passeio” para conferir, dentre outras coisas, as meninas  do Liceu e fazer campanha para a presidência do centro cívico. Situação que me obrigou a bater muita perna vendendo meu peixe na candidatura. Posso afirmar que no Liceu nasceu meu gosto pela política, aliás, gosto e decepção.

E tais lembranças me remetem às salas de aula e aos grandes professores, cada um com suas peculiaridades. Como não lembrar do Professor Newton, que abençoava nossas tardes calorentas destrinchando o pequeno rato em decúbito dorsal, preso sobre uma placa de cortiça. Ele relatava tão bem a técnica laboratorial que eu chegava a ter pena do pobre rato. Ou ainda quando ele começava a bailar uma saraivada de bactérias com suas mazelas e características. O olho dele brilhava ao tratar do Treponema Pallindum, Streptococcus pyogenes, Neisseria gonorrhoeae, Mycobacterium tuberculosis, acinetobcte baumannii, etc.  Da mesma forma, como esquecer a nossa querida e hilária professora Germana, de Citologia e suas vertentes da teoria celular ou como ela gostava de falar, unidade fisiológica e morfológica ou ainda, procarionte, eucarionte, assexuado, sexuado e por aí íamos enchendo as páginas dos cadernos com verdadeiros tratados sobre as minhocas e seu hermafroditismo, a teoria da endossimbiótica, DNA, RNA e Ribossomos.

Tudo isso acabou por forjar o nosso DNA de ter que ler, pesquisar, estudar e correr atrás.

A parte que entrávamos a partir do segundo horário e deixávamos dona Dulce com a pulga atrás da orelha ou quando jogávamos bola no fundo da sala, além de fumar dentro da sala e visitar quase que diariamente a secretaria/diretoria para um boa tarde à Eulina, deixaremos para um outro dia.

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