Há quase trinta anos, quando soube da gravidez da sua mãe , senti algo estranho, como se estivesse assumindo uma nova fase do efetivamente ser homem e importante. Talvez o anseio tenha tomado conta de mim. Acho que neste momento já assumia de vez o papel de pai. Pai de um menino, uma vez que, supunha eu, aquele novo ser seria um menino, meu menino, claro, lógico, evidente, pensei eu em um momento de grande idiotice. Lembro-me que a partir daquele momento me sentia mais responsável e mais cheio de responsabilidade. No dia seguinte à notícia da breve existência daquele ser, quando fui para o trabalho foi um dia atípico. Fiz tudo o que fazia todos os dias, encarei tudo aquilo que não estava programado e que não deu certo, alertei ou elogiei como sempre, mudei ou contribuí para mudança de processos, ou seja, tudo normal, porém, tudo estava diferente. Sentia-me importante. Acho que me senti senhor Vicente Freire pela primeira vez. Era a magia da transição de filho para pai. Como não pratiquei muito o primeiro, já começava a apreciar muito a segunda condição. Era como se eu estivesse plainado em uma rota de novos desafios e em um mundo totalmente novo, sem saber ao certo o que me esperaria, mas que de alguma forma, eu pressupunha que seria muito bom. Uma vez mais acostumado com a estranheza do ser pai e de saber que já existia alguém que um dia me chamaria de pai me dava bastante alegria. Confesso que pela primeira vez me ocorria tal idéia sem resistência, uma vez que não era segredo para ninguém, jamais me imaginara pai de alguém, responsável por alguém e principalmente alguém que dependesse de mim. Mas de repente tudo mudou. Sem avisar, nem ao menos uma pista, de repente me vi pai. Acho que de certa forma o novo ser já começava a botar banca na sua muito breve existência, coisa que aliás será uma marca no futuro, como veremos mais à frente. Mas não botemos o carro na frente dos bois, voltemos ao presente. Como dizia, já começava a gostar do papel de pai. E existia um sentimento que traduzia tudo o que eu sentia até o momento e que sinto até hoje. Orgulho. Claro que hoje eu sinto em dobro multiplicado por mil, pois cinco anos depois veio o irmão daquele novo ser e mais uma vez me surpreendeu. Ser pai é um grande desafio de magia e aprendizado constante.
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