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Da máquina de escrever ao smartphone

Há trinta e sete anos, ao ingressar em uma multinacional, me deparei com uma gama de recursos que me impressionava por demais. Parte da admiração provinha da minha grande inexperiência no mundo corporativo e parte porque de fato, a oferta de recursos de ponta realmente era fantástica. E aquilo exercia um fascínio muito forte na minha forma de encarar e conhecer tudo aquilo. A própria oferta em abundância dos citados recursos já era em si, uma oportunidade de aprendizado e conhecimento. E eu virei pinto no lixo, como dizem por aí. Os móveis, à época, eram de um fabricante conhecido como madeirense e era o que se tinha de mais sofisticado. Trabalhava no departamento de Economia, mais precisamente na financeira. Tínhamos máquinas de calcular elétricas da Sharp, que eram um verdadeiro charme e muito eficientes. As máquinas de escrever eram elétricas, muito bonitas e eram enormes, além de pesadas. Trocá-las de mesa não era tarefa das mais fáceis. Bastava que triscássemos na tecla e pronto, a mágica acontecia e estava feito o registro. Isso nos dava muita produtividade na elaboração dos textos técnicos que tínhamos que realizar. E o mais curioso e para minha surpresa é que o fabricante era IBM. A esfera da máquina era uma coisa maravilhosa e imaginava eu – só a IBM mesmo para fazer isso. – Aquilo não era tão somente uma esfera, era uma flor que sabia escrever – Pensava eu.

Da máquina de escrever, em três ou quatro anos mais tarde evoluímos para os monitores, aqueles da tela preta e letras verdes. Era o primeiro passo para uma grande conexão em rede que se avizinhava. Tive que ampliar a sala pois os bichos eram grandes. Enquanto a Legião arrebentava com será, Gal com chuvade prata e Foreigner com I want to now what love is o mundo seguia a passos largos chegando a 1986 quando encontramos uma tal de Madonna enchendo o saco com papa don´t preach; o governo edita o Plano Cruzado, mudando o nome da moeda de cruzeiro para cruzado, que passou a valer mil cruzeiros. Vá entender. Enfim, chegamos no início dos anos 1990 com uma inflação de 82,39 % em março de 90 e entre tantos contratos com reajustes baseados em fórmulas paramétricas, pagamentos atrasados que geravam homéricas discussões e justificativas; brigas por um ou dois dias na interpretação da condição contratual do pagamento, foi quando trocamos os bons e velhos monitores por pc´s de primeiríssima geração. Telas coloridas, plataforma Windows com suas janelinhas atrativas e o mais importante, conseguimos nos livrar dos famigerados abend´s dos monitores, que tanto nos deixavam loucos, principalmente nos fechamentos de fim de mês. Foi uma década de evolução interna com novos projetos; evolução essa que me trouxe Laryssinha Bianca e, claro, evoluindo cinco anos depois para Iury Rodrigo. Como ele veio também garota nacional, sucesso do Skank que viralizou, muito embora, à época não usássemos muito esta expressão com tanta frequência quanto hoje. E junto com tais evoluções muitos programas paralelos que não conversavam uns com os outros começaram a surgir; era um inferno; Era um tal de namorado que só pegava na mão, nada mais que isso. Neste momento começaram a desaparecer os tais cpd´s dando lugar para as novas áreas de ti´s; chegamos assim aos anos 2000 com novas tecnologias, novos caminhos, novas possibilidades, novas nomenclaturas, novos rumos. O fantasma da inflação já não nos aborrecia mais. Overnight, inflação inercial, ortn, otn, btn, tr, lft, tablita, indexação, enfim, tais expressões foram saindo aos poucos do nosso dia a dia e as trocamos por outras. Saímos do Sicoc e entramos na era do Oracle. Finalmente adeus fundo preto com letrinhas verdes. Dez anos depois pulamos do Oracle para o SAP. Foi meio que trocar seis por meia dúzia, na nossa humilde percepção, só que mais caro. Não podemos esquecer que também que nesta década nos deparamos com uma grande novidade, os celulares e os famosos tijolões; começamos os anos 90 com tijolos e chegamos aos anos 2000 com caixas de fósforos falantes; iniciamos a década usando para falar e terminamos, às vezes, usando também para isso. Neste período aposentamos os formulários físicos com cinco vias e quatro folhas de carbono. Para nós da financeira, tal fato era um verdadeiro acontecimento; aos poucos fomos esvaziando as prateleiras com formulários e enchendo os hd´s e, a Microsoft escrevendo novos programas para nos vender mais caixinhas de Windows. A partir daí o mundo enlouqueceu. Criaram em 2004 um tal Orkut e Facebook, em 2006 veio um tal de Twttr, que depois virou Twitter, à época se dizia que era um bicho que piava. O Brasil elegeu uma maluca que não sabia sequer falar abobrinha e depois elegeu um maluco que fala abobrinha demais. E o mundo continuou a enlouquecer com Msn, Skype, Gtalk, Instagran. Mas loucura mesmo foi quando surgiu um tal de WhatsApp, e agora temos uma febre de TikTok. Acho que para o mundo, não tem mais jeito, mas para nós, ainda temos uma salvação, que é pensar que o Smartphone de hoje é a máquina de escrever do futuro.

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